Postado em 08 de Outubro de 2020 às 16h22

Setor primário cobra investimentos em infraestrutura

FAESC cita melhorias no sistema viário e suporte para maior investimento em tecnologias como necessidades primordiais dos produtores rurais em Chapecó

 
Há 70 anos, a população rural de Chapecó não só era capaz de decidir uma eleição, como também dominava todos os indicadores do município que tinha extensão territorial do tamanho de toda a região oeste. A década era de 1950, com 90 mil habitantes e apenas 2,6 mil vivendo em área urbana. Sete décadas depois, a situação se inverteu: a maior cidade do oeste tem mais de 220 mil habitantes e somente 8,9% deles vivem no campo, cerca de 19.700 pessoas.
Apesar dos números mostrarem a expansão urbana, não representam necessariamente o enfraquecimento do campo. Muito pelo contrário: o setor primário no município – agricultura permanente e temporária, pecuária, produção de origem animal, aquícola, florestal e silvícola – forma a base da maior força econômica chapecoense: o agronegócio. Sozinhas, as atividades primárias respondem por 2,2% do PIB municipal de R$ 8,9 bilhões, contam com 189 empresas e geram 791 empregos formais.
Entre as culturas de maior destaque estão os cultivos de soja, milho e erva-mate. O município é o maior produtor catarinense de erva-mate, com valor estimado da produção de R$ 12,5 milhões, detém a 11ª produção estatual de milho, com R$ 18,4 milhões, e a 19ª maior produção catarinense de soja – R$ 35,2 milhões, o que presenta 49,5% do valor da produção da lavoura temporária local. O setor também movimenta R$ 38 milhões por ano na criação de aves, R$ 22,8 milhões no rebanho de bovinos, R$ 27,6 milhões na produção de leite e R$ 8,4 milhões na criação de suínos.
Quando se une à indústria para fabricação de produtos alimentícios, os números são ainda mais relevantes, com destaque para atividades de abate e processamento de carnes. São 138 empresas no município, mais de 12,7 mil empregos formais e participação de 23,3% do valor adicionado fiscal (R$ 1,3 bilhão), conforme estudo “Município em Números” do Sebrae/SC, disponibilizado neste ano pelo programa Cidade Empreendedora.
Para o vice-presidente regional da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), Ricardo Lunardi, os dados mostram a força do setor no município e revelam a eficácia dos produtores da “porteira para dentro”.
“Nosso produtor é eficiente, qualificado e competitivo. Isso é fruto do trabalho bem desenvolvido por eles nas propriedades, com suporte e capacitação técnica ofertada pelas entidades do setor, como FAESC, SENAR, EMBRAPA, CIDASC e EPAGRI”, aponta.
QUAIS OS DESAFIOS?
Porém, tudo o que é bom sempre tem como melhorar. Ao mencionar as necessidades do setor para ampliar o desenvolvimento econômico e fortalecer os produtores, Lunardi cita melhorias e investimentos em infraestrutura da “porteira para fora” como os principais desafios do município que devem estar no radar dos novos governantes.
Entre os entraves que prejudicam a competitividade e precisam ser resolvidos, o dirigente aponta melhorias na infraestrutura do sistema viário, maior qualidade no fornecimento de energia elétrica no campo e ampliar o abastecimento de água no município.
“São ações que dependem de incentivos públicos que podem partir da Prefeitura, seja em projetos próprios ou em parceria com demais entes federados na viabilização de recursos. Sabemos que a população rural é muito menor que a urbana e que há mais votos num raio de 1km de asfalto do que na mesma distância no campo, porém o agro é a base da nossa pirâmide econômica, o que mais que justifica sua importância para o desenvolvimento do município”, argumenta Lunardi.
No sistema viário, as atenções devem ser direcionadas para a melhoria das estradas e do acesso às propriedades, além de um plano para projeção das principais artérias do município sobre toda a extensão territorial. “Esse planejamento permitirá o crescimento mais ordenado, não só na área urbana”, lança Lunardi ao apontar a duplicação da BR 282 e a construção da Ferrovia do Frango – projetos que dependem de verbas estaduais e federais – como obras primordiais para o setor reduzir custos de transporte, melhorar o escoamento da produção e tornar-se mais competitivo. “Como mandatário do município que é o principal exportador, o prefeito de Chapecó tem toda a autoridade e o respaldo para reivindicar essas importantes obras”.
Nos serviços disponibilizados aos produtores, o vice-presidente regional da FAESC cita o fornecimento de energia elétrica de melhor qualidade e eficiência e a ampliação do abastecimento de água como principais necessidades. “Os produtores encontram dificuldades para implantar novas tecnologias e ampliar a produção porque a energia fornecida hoje não é compatível com as inovações. Também, sofrem com a falta de água para abastecer as propriedades em períodos de estiagem”, explica.
Quando a análise ultrapassa a fronteira municipal, a FAESC também defende duas ações essenciais para estimular os produtores e melhorar a rentabilidade no campo: o aprimoramento da metodologia de formação de preços dos produtos – assegurando maior participação dos produtores nas discussões – e a criação de políticas de proteção ao produtor. “Estamos muito bem da porteira para dentro, mas faltam ações e incentivos da porteira para fora, especialmente para elevarmos produtividade e renda dos produtores”, aponta Lunardi.

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