Postado em 14 de Novembro de 2023 às 17h08

Sem medo de anestesia

Saiba o que é possível fazer para controlar esse sentimento

A anestesia tem como base três pilares principais a perda de consciência (hipnose), o controle da dor (analgesia) e o relaxamento muscular que facilita o ato cirúrgico.

“O procedimento cirúrgico é mesmo a última opção de tratamento, doutor?”. “Prefiro adiar minha cirurgia o máximo de tempo possível porque tenho receio de ficar desacordada!”. “Não me preocupo com o corte, sinto medo da anestesia geral ao falar de cirurgia”. Você provavelmente já deve ter ouvido alguma dessas frases de pessoas próximas ou conhecidas. Mas, por que o medo da anestesia geral parece dominar o pensamento da maioria dos pacientes? Esse nervosismo pode interferir no procedimento cirúrgico? O que é possível fazer para controlar esse sentimento?
A anestesiologista e médica cooperada da Unimed Chapecó, Dra. Fernanda Guollo, explica que a maioria das consultas pré-anestésicas iniciam com a queixa do paciente de medo da anestesia geral. “Eles são temerosos com a perda da consciência, com a possibilidade de dor ou de despertar durante o procedimento e até mesmo com a recuperação pós-anestésica”, comenta a médica. Por isso, os especialistas da área esclarecem, antes do procedimento cirúrgico, as dúvidas sobre o ato anestésico: por quem pode ser realizado, sob quais condições e qual o grau de segurança que apresenta.
“O medo está relacionado aos vários casos de antigamente com desfechos negativos, quando não havia tecnologia adequada para monitorização contínua dos sinais vitais e, por causa disso, o risco era aumentado. Realmente, os registros históricos relatam que o índice de complicações era muito maior, com isso, surgiu e rapidamente se popularizou o receio de dormir e de não acordar. Além disso, a perda da consciência temporária remete à sensação do paciente se sentir totalmente entregue e indefeso, o que favorece a insegurança”, explica Dra. Fernanda.
PRINCÍPIOS
A anestesia tem como base três pilares principais: a perda de consciência (hipnose), o controle da dor (analgesia) e o relaxamento muscular que facilita o ato cirúrgico. Para atingir esses objetivos podem ser utilizadas várias técnicas: anestesia geral (em que há perda total de consciência e imobilidade), bloqueios periféricos (onde somente alguns nervos do corpo são anestesiados), bloqueios de neuroeixo (como raquidiana e peridual, onde grande parte do corpo fica anestesiada, mas a consciência é mantida), local (onde apenas a área da incisão é anestesiada) e sedação (em que a ansiedade é reduzida através de medicações, mas não necessariamente há inconsciência).
“Cada procedimento cirúrgico exige um grau diferente desses três pilares. Por exemplo, uma mãe que será submetida a cesárea não deve sentir dor, mas precisa estar acordada para presenciar o nascimento do filho. Já outras cirurgias, como a retirada da vesícula biliar, beneficiam-se de um paciente dormindo e com relaxamento muscular otimizado. Dessa forma, o objetivo inicial e primordial do anestesiologista é propiciar condições ideais para que a cirurgia transcorra da melhor forma e que o paciente tenha a experiência de maneira mais confortável possível”, ressalta Dra. Fernanda.  
ORIENTAÇÕES
Para nortear essas decisões é imprescindível a consulta pré-anestésica, que deve ser realizada previamente ao dia da cirurgia para garantir tempo hábil de adequações. Segundo a anestesiologista, o estado de saúde do paciente será avaliado, além do porte da cirurgia, do tempo necessário para o procedimento e dos riscos envolvidos em todo o processo. “Exames serão solicitados conforme a necessidade e a partir desses dados será elaborado um plano anestésico, com a técnica proposta, riscos envolvidos e desfecho esperado”, explica.
Nessa consulta o paciente também será orientado sobre os próximos passos, o jejum necessário (para que não haja risco de regurgitação e aspiração), exames a serem levados no dia e como acontecerá todo o procedimento até o momento de ele dormir (se assim for o caso). Dra. Fernanda argumenta que é decisão do especialista (com participação do próprio paciente) o tipo de anestesia a ser utilizada ou qual a melhor combinação entre elas. “Procedimentos maiores, com mais probabilidade de dor pós-operatória, normalmente, necessitam de técnicas combinadas”, explica.
Ao falar de anestesia geral, muitos pacientes a associam à intubação. A especialista tranquiliza ao afirmar que essa técnica visa proteger a via área, ou seja, garantir que secreções, saliva ou sangue provindo da cirurgia não atinjam o pulmão e causem uma pneumonia aspirativa. “Nem todos os casos exigem intubação, mas sempre que o procedimento for demorado ou com secreções ela será realizada. Outro cenário em que ela se torna necessária: pacientes em decúbito ventral, para garantir a segurança da ventilação”, complementa a médica.
ATUAÇÃO 
O papel do anestesiologista durante a cirurgia é de avaliar, a cada momento, o estado do paciente, os riscos de complicações que podem surgir (como sangramentos) e qual a melhor conduta a ser tomada frente a cada situação. “Como qualquer ação que tenhamos, a anestesia envolve riscos. Com a modernização dos equipamentos de monitorização e desenvolvimento de novas tecnologias, eventos graves com risco de vida são raros e, frequentemente, tratáveis quando acompanhados por um profissional qualificado. As complicações mais frequentes envolvem náusea e vômitos no pós-operatório, além de dor, se mal controlada durante o transoperatório”, expõe a médica.
Dra. Fernanda ressalta que o cuidado anestésico inclui o tratamento dessas complicações e desconfortos mesmo no período posterior ao procedimento, mostrando-se um cuidado global perioperatório (antes, durante e após a cirurgia) de forma continuada. “A participação do paciente durante todo esse período é primordial, pois somente através da informação e das decisões conjuntas se obterá o melhor resultado, respeitando individualidades e preferências e mantendo-se a segurança necessária”, observa. Ao final da cirurgia inicia o despertar anestésico. Normalmente, dentro de poucos minutos o paciente já está acordado e, conforme estabelece o retorno da consciência e a capacidade de respirar por conta própria de forma eficiente, é transportado para a sala de recuperação.
ANESTESIA INFANTIL
A ansiedade no pré-operatório é aliviada com informações e conhecimento de como se desenrolará todo o procedimento. Segundo a anestesiologista, em casos selecionados, podem ser prescritos previamente ansiolíticos. “No acompanhamento de crianças o controle do nervosismo se torna mais complexo. Pensando nisso, frequentemente, utiliza-se um sedativo oral, adocicado, que é administrado cerca de meia hora antes da ida à sala cirúrgica. Dessa forma, a criança já estará mais sonolenta e o medo diminuirá”, ressalta a especialista.
Para proporcionar o bem-estar infantil as fragrâncias têm papel relevante na hora da anestesia pediátrica, porque a criança vai inalar o anestésico (que tem um odor característico) através de uma máscara até dormir. “Essa técnica permite disfarçar o cheiro do anestésico e favorece a aceitação do processo. Isso garante uma indução anestésica mais tranquila e com menor possibilidade de trauma”, expõe Dra. Fernanda. Essa novidade foi implementada no Hospital Unimed Chapecó em abril deste ano, com a oferta de vários aromas clássicos como morango e chocolate, mas outros que aguçam a curiosidade como “pum de elefante” e “perfume de princesa”.
Antes da anestesia são apresentadas essas fragrâncias e a criança pode escolher com a qual deseja dormir. O acompanhante pode entrar na sala cirúrgica e permanecer até o adormecer da criança. “A participação da família e a possibilidade da criança ‘decidir’ como será sua anestesia torna o processo mais leve, como se fosse parte de uma brincadeira que ela se sente incluída e não apenas um paciente em um ambiente desconhecido. Os familiares também se sentem mais acolhidos e ficam tranquilos, o que contribui na anestesia e para um despertar mais calmo”, enfatiza a especialista.

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