Postado em 12 de Janeiro de 2021 às 17h34

“Seja um colaborador efetivo de sua comunidade”, incentiva Odair Balen

Você sabe o que é responsabilidade socioambiental? É um compromisso, uma mudança que deve acontecer nas políticas e na cultura da empresa, de entidades e organizações, pensando no bem-estar social, na preservação do meio ambiente e no mundo que será deixado para as gerações futuras. O diretor de responsabilidade social e ambiental da Associação Comercial e Industrial de Chapecó (ACIC), Odair Balen, explana sobre o assunto nesta entrevista.
 
O que é responsabilidade social e quais ações as empresas podem realizar na prática?
Odair Balen – Responsabilidade social é primeiro atuar na conformidade legal, depois olhar para o todo, perceber que não estamos sozinhos, colaborar com ações e atitudes que nos levem a patamares melhores de civilização e de convivência social. Somos uma passagem, com tempo de vida limitado, e por que não deixar um mundo com mais qualidade de vida para as futuras gerações? Isso implica na utilização adequada dos recursos disponíveis, os quais são limitados, e precisamos utilizá-los com parcimônia e responsabilidade.  
 
Qual o papel da liderança para incorporar a discussão de responsabilidade social e ambiental na estratégia das organizações? 
Balen – A liderança é essencial para a sensibilização dos colaboradores e no envolvimento com as demais pessoas e entidades que já atuam com iniciativas de responsabilidade social e ambiental. De maneira geral, o público ainda desconhece o que são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), por que foram criados, quais suas metas. Necessitam ser orientados, porque é das atitudes e ações individuais que melhoramos o ambiente de trabalho, que geramos ações de colaboração para com as pessoas e o ambiente. É necessário que os proprietários e líderes das empresas tenham mais envolvimento social. Somos parte de uma sociedade em constante efervescência, ansiosa por mudanças, que transfira às pessoas uma qualidade de vida melhor. O ser humano, quando não é explorado, gosta de compartilhar e se envolver em ações comunitárias. As lideranças devem sentir isso nos seus funcionários e estimulá-los.
 
As empresas atuantes nesse segmento geram diferencial competitivo? Por quê? 
Balen – Empresas que têm responsabilidade social são vistas pelos clientes com um olhar mais feliz. São valorizadas e escolhidas. Portanto, é necessário tirar os olhos apenas do resultado financeiro, do lucro, olhem para os lados, porque inúmeras empresas perderam clientes em quantidade quando deixaram a comunidade de lado. Hoje, as pessoas percebem e são sensibilizadas para aquisição em empresas comprometidas, que possuem responsabilidades em relação à comunidade em que estão inseridas. A concorrência existe em todos os setores, podemos escolher onde comprar e, certamente, as pessoas valorizarão empresas que praticam a responsabilidade para com a sociedade.      
 
Como o senhor enxerga o Brasil no contexto da responsabilidade social e ambiental? 
Balen – O Brasil melhorou muito, as empresas estão incorporando conceitos de compliance, de transparência, de responsabilidade social, responsabilidade ambiental, e as universidades estão sensibilizando e ampliando conceitos inovadores, que buscam uma sociedade mais equânime e justa. Não devemos ter medo e, sim, apoiar. Ainda temos muito a evoluir como povo, nação, sociedade civilizada e precisamos do debate crítico para avançar. No entanto, estudo recente por parte de 50 entidades, divulgado pelo GIFE, sob o nome “Relatório Luz sobre os ODSs”, mostra que quase nada avançamos em relação às 169 metas propostos nos ODSs. É necessário haver uma atitude propositiva por parte do Governo Federal para o alcance dessas metas.
 
E Chapecó e região Oeste?  
Balen – Em Chapecó ainda precisamos avançar muito. As grandes empresas e as multinacionais aqui localizadas já incorporaram essas responsabilidades e conceitos, mobilizadas pelo mercado internacional, que exige responsabilidade social e ambiental das empresas exportadoras. Outras empresas de caráter nacional também possuem conhecimento maior sobre essa questão. O problema está nas empresas menores, familiares e de porte médio, as quais cresceram graças ao trabalho e pioneirismo familiar, e não incorporaram conceitos sociais importantes que organismos internacionais desenvolveram em benefício da sociedade como um todo, como é o caso do desconhecimento sobre os ODSs. A região oeste de SC está incorporando, aos poucos, essas responsabilidades, quanto menor o município, mais fácil seria implantar os conceitos e atuar de forma responsável. Depende muito das lideranças locais mobilizar as escolas e sensibilizar a comunidade.
 
Algumas empresas – tanto de grande quanto pequeno porte – ainda não se organizaram para implantar ações de responsabilidade social. Qual é o papel da ACIC nesse contexto?
Balen – Cabe à ACIC mobilizar as lideranças e os proprietários dessas empresas associadas para que reúnam seus funcionários, falem sobre os ODSs, vejam onde podem atuar, pelo menos encaminhar corretamente seus resíduos, e possam colaborar em ações de caráter comunitário. Está previsto para o ano que vem, por meio da Diretoria de Responsabilidade Social e Ambiental, publicar textos, divulgar ações, atitudes e indicadores que podem sem implantados nas empresas e, dessa forma, atuar com maior responsabilidade social e ambiental.
 
Que dica você daria aos empresários que começam a perceber essa necessidade? Por onde começar? 
Balen – Façam uma reunião com seus funcionários, exerçam empatia, olho no olho, ouçam os colaboradores primeiro, encaminhem ações que possam contribuir para melhorar o ambiente do trabalho. Vejam se estão descartando corretamente os resíduos, informem o destino e por que devem ser descartados corretamente, informem que qualquer atuação do poder público utiliza dinheiro dos impostos arrecadados e que se não precisa gastar para corrigir distorções e erros das empresas e pessoas, pode construir mais creches, escolas e parques. Normalmente, as pessoas acham que o poder público tem dinheiro à vontade e não é assim. Explicar que a concorrência seleciona as empresas pela qualidade dos serviços prestados, pelo preço e por sua atuação na comunidade.     
 
O empresário deve considerar a comunidade regional como extensão de sua organização, buscando conhecer e solucionar os problemas coletivos existentes?
Balen – Justamente esse conceito deve ser incorporado pelas empresas. Um olhar mais abrangente para com a comunidade onde estão inseridas. Se não houver envolvimento das empresas locais na resolução das demandas da comunidade, a empresa não terá apoio dessa mesma comunidade. Ações de caráter social devem ser parte da organização. Não basta gerar empregos, pagar impostos, passar pelo tempo como se fosse apenas algo com esses propósitos. É necessário desenvolver a sensibilidade das pessoas e lideranças com atos de contribuição para com a comunidade local. Dar um olhar mais humano às empresas e à sociedade. A Fundação Bill Gates é exemplo de contribuição à humanidade, doou no passado U$ 350 milhões de dólares ao Rotary para ações humanitárias. Não precisamos doar para entidades de fora, em nossa região há muitas que atendem adolescentes em situação de vulnerabilidade e precisam de ajuda e contribuição. Temos crianças de 9 e 10 anos servindo de aviõezinhos do tráfico, muito espertas. Já pensaram se pudéssemos canalizar essa inteligência para o lado bom da vida?
 
Como fazer para que as legítimas ações de responsabilidade social não sejam confundidas com tentativas de promoção de imagem, marketing e relações públicas?
Balen – Para que não seja apenas uma ação de propaganda, a ação deve ser permanente, uma responsabilidade assumida pelo conjunto da empresa, algo que os colaboradores e lideranças vejam como uma responsabilidade da empresa em sua comunidade, de forma permanente e não eventual. Deve ser uma diretriz da empresa, de mobilização permanente, que cada colaborador saiba porque sua atitude deve ser assim.  
 
Uma das grandes ações da sua diretoria em 2020 foi a campanha Salve Vidas que arrecadou recursos para o Hospital Regional do Oeste? Qual avaliação o senhor faz dessa campanha?
Balen – Foi muito positiva, graças ao empenho e envolvimento de nosso presidente Nelson Akimoto. De muita responsabilidade para com a comunidade regional, contribuiu para salvar vidas, houve participação de inúmeras pessoas e de empresas associadas. Mostrou que quando a comunidade quer, pode minimizar problemas sociais, mesmo que seja algo não imaginado, como essa pandemia atual. A solidariedade foi mais forte que o egoísmo. Esse problema da pandemia nos fez reavaliar valores e compreender que as coisas podem fugir de nosso controle. Portanto, vamos colaborar para que as demandas sobre as quais temos controle não fujam de nossa responsabilidade e tenham uma atitude nossa propositiva, de contribuição e valorização. É o caso dos recursos do Planeta, da água em Chapecó, do descarte que podemos fazer com coisas nossas que não mais utilizaremos, mas, para outros podem servir.  
 
E o Portal Social, qual seu objetivo e importância no contexto atual e no futuro de Chapecó e região?
Balen – O Portal Social tem como principal objetivo destinar arrecadação tributária diretamente para projetos culturais, sociais, de esportes, da infância, da saúde, aprovados nos ministérios, para entidades de nossa região. Quando as empresas e pessoas pagam impostos, esse imposto acaba no Tesouro Nacional, que repassa aos ministérios centralizados em Brasília, e esses recursos demoram para voltar à região. Logo, quando destinamos diretamente a projetos de nossa região já aprovados nos organismos federais, o dinheiro permanece aqui. Podemos contribuir na resolução de demandas locais de uma forma muito mais rápida. Pensamos na infância e adolescência, nos idosos e na saúde local. Por isso as empresas devem orientar seu contador para destinar o imposto para essas finalidades, que minimizarão problemas nossos, auxiliarão a desenvolver o esporte e a cultura em nossa região. Nada mais justo do que as empresas locais contribuírem para resolver problemas locais. Propaguem para amigos de outros municípios próximos também divulgarem projetos de seus municípios no Portal Social da ACIC.  
 
A ACIC desenvolveu diversas ações sociais para contribuir no combate ao coronavírus e para auxiliar as pessoas e as empresas a seguirem em frente. Além das já citadas, quais outras também foram importantes?
Balen – A presidência da ACIC sempre esteve muito presente nas iniciativas do poder público local e estadual para debater esse assunto. Cumprimos o que a legislação determinava. Em certos momentos, foi trabalhado para a abertura de determinados setores, houve uma preocupação para com as atividades laborativas dos associados, jamais esquecendo de que a vida vem em primeiro lugar. Houve atendimento direto ao associado sobre aspectos jurídicos relacionados à pandemia, sobre legislação e forma de atuação, para não incorrer em ilegalidades.    
 
Qual a importância dessas ações e do papel da entidade na comunidade?
Balen – A ACIC tem uma responsabilidade enorme para com seus associados. Precisa fortalecer o associado para que este viabilize a perenidade de suas iniciativas. Por isso, a entidade está sempre fornecendo cursos de qualidade técnica para lideranças e colaboradores das empresas. Realiza pesquisas diagnosticando problemas das empresas associadas, identifica demandas da comunidade e procura fortalecer o associado, além de se preocupar com aspectos políticos que possam gerar impactos na comunidade. Executa uma liderança conectiva com o poder público, atendendo a anseios sociais relevantes para a comunidade regional. Exerce influência propositiva e de assertividade nas diversas instâncias políticas que possam colaborar para o desenvolvimento regional. A entidade está sempre aberta para atender as demandas dos seus associados e preocupada com ações que possam contribuir para o desenvolvimento da região Oeste de SC. O trabalho de toda diretoria da entidade é exercido de forma voluntária. Você associado merece nosso trabalho, não esqueça de que precisamos ser protagonistas, não meros coadjuvantes no contexto social. Exerça pró-atividade. Suas atividades de responsabilidade social deixam um legado melhor. Seja um colaborador efetivo de sua comunidade. 

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