José Zeferino Pedrozo - Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
O fim de ano foi marcado por queixas generalizadas de consumidores em relação ao preço das proteínas, especialmente a carne bovina. A seca em várias regiões produtoras do País comprometeu as pastagens e afetou o desempenho da bovinocultura de corte. Ao mesmo tempo, o aumento dos insumos (milho, farelo de soja, sal mineral etc.) elevou os custos de produção.
Em Santa Catarina, a questão do abastecimento é mais complexa. O Estado é líder mundial na produção e exportação de carnes de aves e de suínos, mas a pecuária de corte é ainda incipiente. Em números arredondados, os catarinenses consomem 300 mil toneladas de carne bovina, mas só produzem 140 mil toneladas. Assim, é necessário buscar em outros Estados cerca de 160 mil toneladas dessa carne.
O perfil fundiário catarinense – com a predominância de pequenas propriedades rurais – justifica a opção pela criação intensiva de pequenos animais (aves e suínos) em desfavor do boi. Em 2020, Santa Catarina produziu e destinou ao abate 792,5 milhões de aves, 13,4 milhões de suínos e apenas 656 mil bovinos. Mesmo pequena, a atividade está presente em 293 municípios, onde 77 mil criadores mantêm um rebanho de 4,7 milhões de cabeças, entre bovinos de corte e de leite.
Mas essa situação tende a mudar. Nos últimos anos tem havido um esforço muito intenso de aperfeiçoamento da cadeia produtiva da bovinocultura catarinense para ampliar a produção de carne e de leite. No setor lácteo Santa Catarina já é a quarta maior bacia leiteira do País e a prioridade, agora, é elevar a qualidade. No setor cárneo, porém, reside o desafio.
Para atender a essas duas frentes, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) – com apoio do Sebrae, da CNA e da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesc) – desenvolve há cerca de quatro anos o Programa de Assistência Técnica e Gerencial. Desde 2016, quando foi implantado em território barriga-verde, o programa atendeu – nas cadeias produtivas da bovinocultura de corte, bovinocultura de leite, ovinocultura de corte, apicultura, piscicultura, maricultura e olericultura – mais de 5 mil produtores rurais.
O programa representa um avanço na capacitação dos produtores rurais, preparando-os para a condução das atividades com uma visão empresarial e o emprego de avançadas técnicas de gestão e controle. Os expressivos resultados obtidos estimularam a ampliação do programa que receberá investimentos da ordem de 22 milhões de reais para a capacitação de mais 5.000 produtores catarinenses nos próximos três anos. Esses recursos adicionais serão aportados pelo Senar nacional e pelo Senar de Santa Catarina, com apoio do Sebrae.
Paralelamente à ampliação dos investimentos em qualificação de alto nível, foi adotada uma estratégia de natureza mercadológica com o lançamento da marca coletiva de carnes do Estado de Santa Catarina. O projeto foi concebido como uma estratégia de diferenciação do produto catarinense, ou seja, busca agregar valor à carne produzida na primeira área livre de aftosa sem vacinação do Brasil.
Essa é uma demonstração de pioneirismo no desenvolvimento completo da cadeia produtiva da carne bovina catarinense, associando-a à preservação ambiental, à segurança de alimentos e à qualidade do produto.
A marca coletiva já tem nome: “Purpurata – carne catarinense certificada” em homenagem a Laélia purpurata, a flor-símbolo de Santa Catarina. Para implementar esse sistema, a Faesc fará a certificação de propriedades, habilitação de frigoríficos, desenvolvimento do sistema de identificação de produto, habilitação de varejistas e estratégias de marketing dentro e fora do território barriga-verde.
Esse é um projeto do setor pecuário voltado ao produtor rural e à cadeia produtiva, mas quem ganhará é a sociedade catarinense.
Veja também
Alimentação nos primeiros dias de vida reflete no desempenho futuro das bezerras10/Nov/202110/11/21há 3 anos Quarta-feira, 10 de Novembro de 202110/11/2021Saúde, nutrição e manejo das bezerras foram abordados pelo doutor James D. Quigley, referência mundial em gado jovem e líder técnico global da Cargill Nutrição Animal na área de nutrição de animais jovens, na abertura do segundo dia do 10º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL), nesta quarta-feira (10). O evento......
ACIC promove evento de lançamento da Mercoagro 2023 22/Mai/202322/05/23há 2 anos Segunda-feira, 22 de Maio de 202322/05/2023Mercoagro espera mais de 15 mil visitantes-compradores, 228 expositores e 650 empresas....