Neivor Canton, presidente da Aurora Coop e vice-presidente para assuntos do agronegócio da Federação das Indústrias de SC (FIESC)
A definitiva integração política, cultural e territorial do oeste catarinense é um fato relativamente recente. Distante da capital, a região permaneceu muitos anos sem a presença do Estado. Em 1929 o então governador Adolfo Konder empreendeu uma épica viagem à região, viajando em lombo de cavalo até a fronteira com a Argentina. Foi o primeiro governador a fazer esse percurso. A região era distante, isolada e abandonada. E assim permaneceu por décadas.
A situação começaria a mudar em 1963 quando o governador Celso Ramos criou e implantou a Secretaria dos Negócios do Oeste (SNO) na área do “antigo Chapecó”. A região havia sido objeto de disputas primeiro com a República Argentina e, depois, com o Estado do Paraná. Não era só o abandono da região que justificava a criação da SNO, mas também o movimento emancipacionista pró-Estado do Iguaçu.
Desde seus primórdios, o grande oeste ressentiu-se da insuficiente presença estatal em várias áreas e, especialmente, na infraestrutura. As deficiências ainda se fazem sentir nas rodovias (sistema viário estadual e federal em mau estado de conservação), no suprimento de energia elétrica, nos sistemas de água, na ausência de gás para uso industrial, na inexistência de um modal ferroviário, na carência de hospitais públicos etc.
A região aprendeu a enfrentar seus problemas e a equacionar seus desafios sem a presença do ente estatal. Contra todos os prognósticos tornou-se o celeiro do País, erigiu um formidável sistema agroindustrial que se notabilizou no Brasil e no exterior. Alguns dos maiores grupos da indústria de alimentos aqui nasceram e prosperaram. Ao arrojo dos pioneiros e à vocação para o trabalho e o empreendedorismo somou-se o emprego intensivo de tecnologia.
A constatação dessa pujança produtiva e da imensa contribuição tributária que proporcionou ao erário público (dos municípios, do Estado e da União) aumentam a sensação de injustiça em relação ao tratamento que a região recebeu em toda sua história. As deficiências infraestruturais são testemunhas dessa realidade. De tão antigo e profundo esse sentimento de abandono parece uma manifestação atávica.
A concentração dos investimentos públicos na região metropolitana e na orla marítima é evidente, basta um passeio pelas belas paisagens do litoral barriga-verde. Tratamento igual, infelizmente, não mereceram as vastas regiões do hinterland catarinense onde as rodovias, pela quais trafegam todos os dias milhões de dólares em produção exportável, encontram-se em precárias condições, encarecendo em até 30% o custo da logística de transporte.
Recentemente, entidades empresariais iniciaram movimento pela construção de ferrovias para assegurar a competitividade do setor e a perpetuação do sistema, uma ligando o oeste de SC com o centro-oeste brasileiro (Ferrovia Norte-Sul) e outra, ligando o oeste com o litoral (Ferrovia Leste-Oeste). A primeira permitirá trazer 5 milhões de toneladas de grãos para alimentar o parque agroindustrial catarinense e preservar mais de meio milhão de empregos diretos e indiretos. A segunda, para levar a produção egressa das indústrias das proteínas animal e vegetal para os portos catarinenses em uma operação intraterritorial.
Entretanto, não deixaram de ser frustrantes as manifestações de certas lideranças que demonstraram desconhecimento sobre as bases fundamentais dessa pauta. Provavelmente ainda são desconhecidas a grande contribuição que o oeste dá ao estado e ao País e, também, as suas dores e necessidades. Esse quadro sugere que é hora de a representação política do grande oeste – na Assembleia Legislativa e no Congresso – priorizar a articulação conjunta de propostas coletivas em favor das grandes causas oestinas.
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