“Hiperprolificidade: como a genética está trabalhando para que o potencial genético aconteça no campo” foi tema de mesa-redonda na manhã desta quarta-feira (13), no Painel Genética do 17º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), em Chapecó. O painel reuniu quatro profissionais com consolidada experiência no melhoramento genético e na gestão técnica de grandes sistemas produtivos: Amanda Pimenta Siqueira, Marcos Lopes, Geraldo Shukuri e Thomas Bierhals. No centro da discussão esteve a hiperprolificidade, conceito que define a capacidade da fêmea suína em parir leitegadas numerosas, com mais leitões nascidos vivos e viáveis a ponto de serem desmamados.
POTENCIAL GENÉTICO
A médica veterinária, Doutora em Ciência Animal com ênfase em Reprodução de Suínos e gerente de serviços técnicos da Agroceres PIC, Amanda Pimenta Siqueira, iniciou sua apresentação propondo uma reflexão: se é possível capturar todo potencial genético à campo. Sua abordagem teve como viés mostrar ao público o que a genética tem feito para sustentar esse aumento de produtividade de forma mais eficiente e rentável. Também reforçou a necessidade de os profissionais do setor terem uma visão integrada e sistêmica de todas as áreas da produção para conseguir explorar esse potencial genético.
Ao exemplificar esse potencial genético, Amanda citou que atualmente há granjas com um terço de sua produção com mais de 20 nascidos totais e que produzem mais de 270 quilos de desmamados fêmea por ano. “Na última década, conforme observamos no relatório da ABPA 2025, vimos uma certa instabilidade no plantel de matrizes suínas, mas ao longo desse período tivemos um incremento de 53% da produção de carne. E, de onde veio esse crescimento? Da hiperprolificidade e da eficiência da produção dentro das granjas”, comentou.
Por fim, Amanda ressaltou que a genética obteve muitos avanços, porém é necessário um novo olhar sobre a matriz suína, ou seja, adequar os manejos. “A suinocultura está em constante evolução em todo mundo, com granjas maiores e com desenhos mais práticos, aliado a mais tecnologia e automação como por exemplo de sistemas de alimentação em maternidade e mais sistemas coletivos. Paralelo a isso tem mudanças consideráveis nas celas de maternidade, na idade de desmame e exigências ambientais”, destacou. A fêmea suína está entregando mais, por isso alguns cuidados devem ser diferentes na genética, nutrição, seleção dos animais, inspeção e pessoas.
PROGRESSO
O diretor técnico da Topigs Norsvin no Brasil e pesquisador no Centro de Pesquisa da empresa na Holanda, Dr. Marcos Lopes, abordou a trajetória do melhoramento genético para garantir que a hiperprolificidade nas fêmeas chegue ao campo. “O melhoramento genético não é tão antigo assim, ele vem da década de 60, quando se começou a montar o estilo e só a partir de 1990 teve um progresso genético maior por tamanho de leitegada”, relembrou.
Ao analisar os dados da hiperprolificidade no Brasil, Lopes apresentou dados da Agriness/2024 que compila o cenário nacional e destaca uma expressiva evolução. “A partir de 2008 chegamos a 24 leitões desmamados fêmea/ano e, atualmente temos aproximadamente 30, o que representa uma média geral. Porém, algumas granjas brasileiras já atingiram patamares de 37 desmamados fêmea/ano”, enalteceu.
Além dessa expressiva evolução, segundo Lopes, a genética precisa ter uma visão de futuro, ou seja, multiplicar o conhecimento com os produtores. “Se nessa trajetória os animais mudaram, então, a prática que se usava antigamente, provavelmente não funcionará mais”, argumentou. Ele também elencou as tecnologias disponíveis, a exemplo da nutrição de precisão, tomografia computadorizada e utilização de câmeras para investigar as fêmeas, sua estrutura óssea, sua longevidade e seu comportamento para que a habilidade materna seja adequada.
De acordo com Lopes, a hiperprolificidade não é sinônimo de problemas, mas precisa de manejado adequado. “Esse é o grande ponto. E, as empresas de genética, são responsáveis por um melhoramento genético sustentável. Precisamos aumentar o tamanho de leitegada, mas também entregar essa habilidade materna para evitar perdas ao longo do sistema”, finalizou.
DESEMPENHO
A abordagem do diretor técnico da DanBred Brasil, Geraldo Shukuri, foi dividida em três tópicos principais: potencial produtivo de fêmeas hiperprolíficas, como o melhoramento genético trabalha para equilibrar as características de grandes leitegadas em busca da sobrevivência e do desempenho e influência do manejo e ambiência para explorar o máximo potencial.
Segundo ele, a hiperprolificidade é um assunto discutido há muitos anos, em virtude de uma demanda mundial por proteína animal, que cada vez mais tem margens de lucro menores. De acordo com Shukuri, a suinocultura tem se esforçado através do melhoramento genético para produzir o máximo de animais possíveis com o melhor desempenho e o menor custo.
Para contextualizar apresentou a realidade atual do setor. “Depois de todo o trabalho feito em relação à habilidade materna da fêmea e a própria característica de sobrevivência do leitão, registramos evolução, principalmente com a entrada da seleção genômica. Hoje vemos o sucesso das empresas de genética em relação a produtividade dos animais com eficiência, com baixa mortalidade, e entregando até 5 mil quilos de carne por matriz”. Segundo ele, manejar animais hiperprolíficos envolve a compreensão das capacidades reais geradas pelo melhoramento genético em cada linhagem, somadas às aplicações corretas de manejo específico para a extração do seu máximo potencial.
DESAFIOS ATUAIS
O médico veterinário, diretor técnico da DNA South America, Thomas Bierhals, comentou sobre as evoluções do setor suinícola nos últimos 20 anos que contribuíram para a maior rentabilidade da cadeia. Segundo ele, lideraram esse movimento o melhoramento genético, as pesquisas e a diluição dos custos fixos. “Na prática as ferramentas chaves foram plantel de qualidade, ou seja, preparação da futura matriz que ingressará na granja, manejo de colostro para aproveitar esse potencial e mães de leite”, explicou.
Bierhals discorreu sobre como as granjas com melhores resultados se diferenciaram, o que elas aprenderam, o que podem nos ensinar e como exploraram mais o potencial genético no comparativo com as demais. “O próximo passo é o melhoramento contribuir cada vez mais para a rentabilidade da suinocultura, que é de chegar ao máximo de animais com um valor cheio ao abate por matriz. Para denominar isso utilizamos o conceito de melhoramento de hiperprolificidade estendida, ou seja, o pensamento vai além do aumento do número de nascidos e compreende ter um animal mais eficiente”.
Para ele, os desafios atuais da hiperprolificidade estão relacionados a fadiga da produção, uma vez que 11% dos nascidos vivos não chegam ao desmame; ao aumento de custos nutricionais e sanitários; os desafios estruturais e a menor quantidade e qualidade disponível da mão de obra. “Tudo começa pelo melhoramento genético. O setor tem oportunidades em nutrição, ambiência e manejo, porém elas demandam extensão, treinamento de pessoas e infraestrutura. O trabalho do melhoramento provê animais que sejam autossuficientes, que dependam menos de estrutura, de manejo rigoroso e atenção. Então, o propósito é deixar a vida do campo mais fácil”.