Postado em 20 de Janeiro de 2021 às 16h37

“Entramos em 2021 mais preparados para eventuais adversidades”

Clóvis Afonso Spohr – presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Chapecó (CDL)

 
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Chapecó, Clóvis Afonso Spohr, destaca otimismo e cautela como elementos fundamentais para encarar o novo ano e recuperar as perdas do setor provocadas pela pandemia. 
Nesta entrevista, o dirigente faz um balanço de 2020 e lança projeções para 2021, com duas certezas: a crise trouxe mudanças e inovações e o comércio da capital do oeste mostrou que é capaz de se reinventar e que está preparado para qualquer adversidade.
 
2020 foi um ano desafiador para todos os setores, especialmente ao comércio. Quais as lições que o ano deixa para os lojistas?
Clóvis Afonso Spohr: Eu acho que a principal lição é a nossa capacidade de nos moldarmos às novas realidades que surgem no caminho. Inicialmente não se tinha ideia do que era de fato essa pandemia, o quanto ela nos atingiria, seja na vida particular quanto comercialmente falando. Mas todos nós conseguimos de uma forma ou de outra superar, alguns segmentos com mais facilidade em função da sua atividade. Outros, que são mais focados naquilo que até hoje está restrito, tiveram necessariamente que buscar alternativas. Muitas empresas que não estavam trabalhando com tele-entregas, com vendas on-line, focados apenas nas vendas presenciais, acabaram tendo que criar novas versões do seu próprio produto. As atividades menos atingidas com restrições também tiveram que se adaptar com relação aos protocolos de segurança. O comércio de um modo geral entendeu a gravidade e os lojistas atuaram como agentes de conscientização. O setor mostrou que é capaz de se adaptar e se reinventar.
 
O ano de pandemia alavancou o comércio virtual. Como as lojas físicas e o e-commerce podem somar ao setor, sem necessariamente competir?
Spohr: Os formatos devem ser complementares. O setor não voltará mais ao estágio que estava antes e terá o comércio mais voltado ao virtual. O lojista precisou acompanhar a inovação, avançou em meio a necessidade, mas não perdeu o que ele conquistou com a venda presencial. O atendimento, a simpatia, a troca de energia e o contato com os consumidores continuam fundamentais. O investimento no e-commerce é uma nova oportunidade.
 
O que mudou no consumo? Pode-se afirmar que há um novo perfil do consumidor pós-Covid?
Spohr: Sim, o próprio comércio precisou mudar em função do consumidor, que ficou numa situação mais cômoda e mais confortável, esperando a ação do lojista. Nós mesmos, enquanto consumidores, não saímos mais de casa sem olharmos antes os smartphones, checarmos e-mails, conferirmos ofertas de produtos e serviços que nos chegam pelo celular. É uma mudança de comportamento que a tecnologia impôs, mas isso não vai nos impedir de sairmos de casa. As ferramentas nos possibilitam mais informações, maior agilidade, inovações do mundo virtual que não podem ser ignoradas. Porém, nós estamos ansiosos para o retorno do contato físico, da circulação de pessoas, do movimento intenso no comércio, até porque poder experimentar uma roupa, caminhar dentro da loja, receber palpites sobre os produtos desejados ou até ver um jogo de futebol no estádio, sair para jantar ou ir a um show são emoções diferentes. A forma de consumo mudou, ela foi ampliada, mas isso não quer dizer que nada será como antes. Tem momentos que você vai sair para jantar e tem momentos que vai pedir comida em casa. Não vai fazer só uma coisa ou só outra, por isso, virtual e presencial andarão lado a lado.
 
Essa inovação pegou o comércio do município de surpresa ou o setor já estava preparado?
Spohr: Pegou a maioria de surpresa. As grandes redes estavam bem mais preparadas para isso, através de aplicativos, sites e serviços já ofertados. O que funcionou mesmo no pequeno comércio foi a intensificação do uso do WhatsApp. A loja que não costumava manter contato virtual com clientes, passou a fazê-lo de forma mais intensa, chamando o consumidor, mandando novidades e usando mais a ferramenta para criar relacionamento. O setor precisou comunicar-se mais, usar melhor os recursos para manter-se competitivo.
 
Quais os segmentos do comércio que mais perderam na pandemia?
Spohr: O nosso pequeno varejo. Além dos bares e restaurantes, rede hoteleira e turismo que são segmentos à parte, as lojas de confecções, especialmente às voltadas à festas e eventos, foram as que mais sofreram. O ramo de estética e beleza, consequentemente, também foi muito atingido.
 
E os menos afetados??
Spohr: Supermercados e farmácias, serviços classificados como essenciais desde o início da pandemia e que não fecharam as portas em nenhum momento. Enquanto a floricultura e a loja de ferramentas, por exemplo, precisaram fechar, o supermercado pode continuar vendendo esses mesmos produtos junto com alimentos, e isso ajudou o setor a crescer.
 
O que esperar de 2021? O setor aposta na retomada do crescimento?
Spohr: Eu quero crer que sim, porque as primeiras informações e indicadores que a gente tem é de uma retomada com otimismo e cautela. Com a chegada da vacina e o controle da pandemia caminhamos para uma retomada gradativa. As aulas voltam, o futebol volta, as viagens, as feiras, os eventos... A cautela existe em função do aspecto político que sempre atrapalha e nos traz inseguranças.
 
As vendas no comércio e no varejo tiveram queda em 2020, devido à pandemia. O que é preciso fazer para recuperar as perdas, conquistar clientes e ganhar fôlego?
Spohr: Saímos fortalecidos de 2020 e entramos em 2021 mais preparados para eventuais adversidades. Esse foi o nosso maior aprendizado no ano. Outro ponto é a união da classe empresarial, que está mais colaborativa, compartilhando angústias e experiências, buscando soluções sem esperá-las dos governos. Nós já somos uma sociedade mais amadurecida, com capacidade coletiva de superação e com olhar mais voltado à cooperação e menos à individualidade. Acho que a crise nos fez olhar um para o outro não tanto como concorrentes, mas muito mais como aliados, irmãos. Esse espírito é que vai ajudar a recuperarmos as perdas e retomarmos o crescimento.
 
Em Chapecó, como o comércio, setor que responde por 25% dos empregos com carteira assinada, sai da crise?
Spohr: Sai fortalecido. Chapecó foi uma das cidades que menos perdeu, comparando com municípios do mesmo porte no Estado. O nosso saldo de empregos é positivo, por isso, dentro de um cenário que poderia ser bem mais grave, nós somos a cidade que talvez melhor se estabilizou e teve menos prejuízos.
 
Como serão as ações da CDL neste ano?
Spohr: Estamos em um processo de planejamento que depende do controle da pandemia. Queremos voltar com os eventos, visitas aos associados, organizar um Natal mais ousado neste ano, promover campanhas de maior movimentação no comércio e, diante da nova realidade, reavaliar os cursos e treinamentos ofertados pela entidade. Também fizemos melhorias na nossa sede social e temos que adaptar a CDL e todos os associados para atender à Lei Geral de Proteção de Dados que traz muitas mudanças a partir de agosto no Brasil. Será um novo ano desafiador, porém acreditamos que a partir de maio teremos uma nova versão do Brasil e da nossa cidade. Até lá, muita cautela e otimismo!
 

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