Postado em 21 de Dezembro de 2023 às 17h47

Indústria: alta no gasto público gera insegurança

Durante balanço econômico anual, realizado na última semana, presidente da FIESC, Mario Cezar de Aguiar, defendeu equilíbrio fiscal como ponto chave para volta da confiança empresarial e dos investimentos; Entidade defende que projetos políticos não devem contaminar política fiscal

Indústria: alta no gasto público gera insegurança

O aumento do gasto público e a falta de um compromisso efetivo com o cumprimento da meta fiscal para 2024 preocupam a indústria catarinense, alertou o presidente da Federação das Indústrias (FIESC), Mario Cezar de Aguiar, durante coletiva de imprensa em que apresentou o balanço econômico anual da entidade, na última semana.
            “A condução da política fiscal não pode ser contaminada por interesses políticos. Isso gera um ambiente de incertezas que afeta a confiança do industrial e, por consequência os investimentos, sem os quais a economia não cresce”, afirmou. No caso de Santa Catarina, o índice que mede a confiança está há praticamente um ano abaixo da linha dos 50 pontos —, o que indica falta de confiança do empresário.
O economista do Observatório FIESC, Marcelo de Albuquerque, também participou da coletiva. Para a FIESC, no cenário atual, é altamente improvável que o Brasil consiga cumprir a meta de déficit zero (equilíbrio entre receitas e despesas do governo). Isso se deve, em boa medida, por dois fatores principais na avaliação da entidade: 1) o governo tem expectativa de arrecadação extra de R$ 168 bilhões, o que é muito difícil de se confirmar; 2) o PIB precisaria crescer cerca de 3% no ano que vem — e as projeções recentes do Banco Central indicam alta de 1,51%.
Apesar das projeções indicarem a inflação dentro da meta (teto de 4,5%) para o ano que vem, o cenário de incertezas não permite avançar para uma redução mais significativa da taxa de juros brasileira, que deve fechar 2024 em 9,25%, o que é uma taxa real (descontada a inflação) ainda elevada.
            Em sua apresentação, Aguiar destacou, ainda, que o aumento do déficit público e a elevação dos gastos podem, num primeiro momento, gerar uma percepção de melhora no ambiente econômico pela injeção de dinheiro no mercado. “Mas isso não se sustenta no longo prazo. O país precisa cortar gastos. É um remédio amargo, mas necessário. Trata-se de implantar uma mudança cultural, saindo de déficits para superávits consecutivos, que podem iniciar um círculo virtuoso na economia”, declarou.
A FIESC defende que o Estado precisa focar no ganho de eficiência. “Precisamos migrar das despesas para os investimentos. São eles que dão sustentabilidade à economia no médio e longo prazo e geram crescimento e desenvolvimento para o país”, completou.
O presidente da FIESC também chamou a atenção para o cenário externo mais desafiador, por conta de questões geopolíticas e da provável manutenção dos juros elevados nos Estados Unidos e na Europa — condição que tende a começar a mudar só a partir do segundo trimestre de 2024. Juros elevados em economias como a norte-americana desestimulam a entrada de investimentos para as emergentes, como o Brasil.
·        Onde SC avançou em 2023: Santa Catarina é a sexta maior economia do país e a participação catarinense no PIB do Brasil passou de 4,6% em 2020 para 4,8% em 2021, conforme dados do IBGE. Além disso, o estado tem o terceiro maior PIB per capita do país (R$ 58,4 mil) — atrás apenas de do Distrito Federal e do Mato Grosso do Sul. 

·        Emprego industrial: De janeiro a outubro de 2023, a indústria catarinense registrou o quarto maior saldo de empregos com carteira assinada do país, com 32,1 mil vagas. Entre os setores que mais geraram vagas estão: construção civil, alimentos e bebidas, produtos químicos e plásticos e metalmecânica e metalurgia. Outro indicador de destaque é a taxa de desemprego catarinense, de 3,6% (a média nacional é de 8,2%). A taxa de informalidade do estado é a menor do país (26,8% contra 39,1% da média nacional) e o rendimento médio do trabalho é de R$ 3.392, enquanto no Brasil esse valor é de R$ 3.014.
·        Prévia do PIB: O Índice de Atividade Econômica catarinense acumula alta de 2,3% até setembro. No mesmo período, o Brasil cresceu 2,8%. O indicador, medido pelo Banco Central, é considerado uma prévia do PIB. A dinâmica de crescimento da economia catarinense se deve, sobretudo, aos setores de serviços e comércio. A resiliência do mercado de trabalho formal, bem como a manutenção do rendimento médio do trabalhador acima do patamar pré-pandemia são fatores que vêm estimulando o consumo das famílias catarinenses em 2023.
·        Balança comercial: Apesar da desaceleração econômica dos principais parceiros comerciais catarinenses, o estado registrou em 2023 (janeiro a novembro) o segundo maior montante exportado da série histórica de US$ 10,6 bilhões. Entre os principais parceiros comerciais destacam-se: China (14,8% participação), Estados Unidos (14,6% participação), Europa (13,4%), Argentina (7,3%), México (6,1%), Chile (5%), Japão (3,8%) e Paraguai (3,1%). No mesmo período, as importações totalizaram US$ 26 bilhões, o segundo maior montante da série histórica. Entre os principais parceiros destacam-se: China (40,5% de participação), Europa (17,1% participação), Estados Unidos (7,3%), Chile (6,3%) e Argentina (5,6%).
·        Produção industrial: No acumulado do ano até setembro, a produção industrial catarinense registrou queda de 2,1%. Entre os setores com maiores recuos estão a fabricação de móveis (-17,1%), confecção de artigos do vestuário (-10,1%), produtos cerâmicos (-9,9%) e metalurgia (-7,7%).
·        Estoques: Pesquisa da CNI mostra que as indústrias de Santa Catarina estão com nível de estoques acima do planejado. Esse indicador reflete a demanda interna insuficiente, que por sua vez impacta diretamente a gestão de estoques no setor produtivo.
·         Endividamento das famílias: Segundo dados do Banco Central, 25,3% da renda das famílias estava comprometida com dívidas (exceto as habitacionais) até setembro. Já o endividamento das famílias com operações de crédito atingiu 30,2% no mesmo período. O custo de crédito é um dos principais fatores para o nível de endividamento em patamar elevado, o que preocupa para o cenário de 2024.

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