Postado em 30 de Maio de 2023 às 13h59

Desafios e superação no mercado de trabalho após os 50 anos

Auxiliar de estacionamento no Fort Atacadista, Jair Franscico da Silva (Foto: MB Comunicação).

Jair Franscico da Silva, de 54 anos, estava com o currículo em mãos quando encontrou um conhecido a caminho da empresa onde buscava uma nova oportunidade. A tentativa de reingressar no mercado de trabalho veio acompanhada do sentimento de frustração após ser desmotivado pelo amigo. “Ele me disse ‘não adianta você ir para a entrevista. As vagas exigem estudos, precisa ter faculdade’. Ignorei e segui com minha meta”, relatou Jair.
 
A persistência garantiu o novo emprego a Jair, que descobriu que a seleção tratava-se do projeto 50+, realizado pelo Grupo Pereira – detentor da bandeira Fort Atacadista – com objetivo de oferecer oportunidades para pessoas acima de 50 anos. “Se eu tivesse confiado em quem me desmotivou, hoje estaria desempregado. Graças a minha força de vontade fui contratado na função de auxiliar de estacionamento”, afirmou.
 
Em uma pausa das atividades, saboreou sua xícara de café e compartilhou sua perspectiva sobre o mercado de trabalho. Tímido e com a voz suave, expressou sua convicção de que a contratação de idosos deveria ser uma oportunidade acessível a todos os que buscam uma recolocação profissional.
 
Ao relembrar entrevistas passadas, Jair relatou que algumas demonstraram preferência por candidatos mais jovens, o que, para ele, sempre foi um obstáculo a ser superado. "Ter uma renda é importante para todas as pessoas e, principamente, ter a chance de contribuir com nossa família. Quando fui contratado no Fort de Chapecó, senti uma alegria imensa. Nunca deixei de acreditar nessa oportunidade ", concluiu.

Auxiliar de estacionamento no Fort Atacadista, Jair Franscico da Silva (Foto: MB Comunicação).

EXPERIÊNCIA E TRANQUILIDADE
 
O santo-angelense Gerson Luis Trindade Rigo, de 61 anos, viu sua vida tomar novos rumos ao se separar e recomeçar um novo ciclo em Chapecó (SC), onde reside há sete anos. Na capital do oeste catarinense, reencontrou a filha – que também enfrentou um processo de separação – e decidiram morar juntos.
 
A busca por estabilidade financeira levou Gerson a explorar diferentes campos profissionais. Com mais de seis anos de experiência na área, buscou uma oportunidade em um supermercado local. No entanto, o trabalho não lhe trouxe satisfação e tentou recolocar-se em outro segmento. Contratado no cinema do shopping teve sua atuação barrada pela pandemia. Enfrentou, assim como muitos, uma série de incertezas, como o fechamento temporário da empresa. Após compartilhar seu conhecimento durante três anos no setor, decidiu dedicar-se a um novo projeto. Logo, seu sobrinho alertou sobre uma vaga no Fort Atacadista.

Operador de caixa no Fort Atacadista, Gerson Luis Trindade Rigo (Foto: MB Comunicação).

Sua determinação e habilidades foram reconhecidas, garantindo-lhe um cargo de operador de caixa. Ao refletir sobre os dois anos de experiência no Fort Atacadista de Chapecó, Gerson ressaltou a satisfação de fazer parte de uma organização que valoriza seus funcionários. "Considero o Fort uma empresa boa de trabalhar, correta e que respeita os colaboradores. Sou feliz na minha função. Encontrei estabilidade e me sinto seguro aqui. Nesta fase, que almejo mais tranquilidade, acredito que são fatores preciosos”.
 
Apesar de ter encontrado a sonhada estabilidade emocional, Gerson compartilhou que nem sempre teve boas experiências no mercado de trabalho. “Quando estamos próximos da terceira idade, percebemos que a discriminação com idosos ainda é muito presente. Já tentei oportunidade em empresas que davam prioridade aos mais jovens, possivelmente devido à crença de que pessoas mais velhas enfrentam dificuldades de compreender alguns processos ou manusear novas tecnologias”, destacou.
 
No entanto, Gerson, sempre ativo e envolvido com o público em seu trabalho, superou essas barreiras. Ele enfatizou a importância da convivência entre jovens e veteranos e argumentou que é possível aprender muito com os mais jovens, bem como o oposto. “Já fui, na minha juventude, impaciente e pavio curto, mas aprendi com esses sentimentos. Percebi que as pessoas se afastavam da minha versão explosiva. Ao entrar por longos anos em contato com um público, compreendi a importância de cultivar a paciência e a desenvolver ‘jogo de cintura’. O amadurecimento é uma jornada constante. Espero sempre melhorar. Acredito que os jovens podem encontrar inspiração em minha experiência”.
 
A maturidade oportunizou a Gerson a sabedoria de respeitar as próprias limitações. “Hoje, recusaria um cargo de gerência, porque tenho consciência de que preciso evoluir minha inteligência emocional. Essa questão de amadurecer também envolve respeitar os próprios limites, saber quando não vamos nos sentir bem e encontrar um equilíbro. Esse é outro aspecto que pode servir de inspiração para jovens. Autoconhecimento é fundamental. Por isso, reforço a importância da formação de equipes ricas em diversidade cultural”.

Operador de caixa no Fort Atacadista, Gerson Luis Trindade Rigo (Foto: MB Comunicação).

 
PERSISTÊNCIA E DISCIPLINA
 
Verena Crema, de 56 anos, é natural de Coronel Freitas (SC). Sua trajetória é marcada por uma série de mudanças e desafios. Aos 13 anos mudou-se, com sua família para Chapecó (SC), onde construiu sua vida. Estudou, casou, teve filhos e passou por uma separação que a impulsionou a buscar novos horizontes. Foi então que decidiu embarcar rumo a Florianópolis, inicialmente com o intuito de passar apenas uma temporada vendendo sanduíches nas praias locais. Contudo, ao chegar à capital catarinense, ela percebeu que seu sonho era abrir um restaurante.
 
Ao identificar uma carência nesse ramo, tanto para os turistas quanto para os moradores, Verena inaugurou seu próprio estabelecimento, confiando em suas habilidades culinárias e no potencial de agradar diferentes paladares com sua comida.  Após 20 anos residindo em Florianópolis (SC), ela retornou para Chapecó (SC), com o intuito de ficar mais próxima de sua família durante a pandemia. “Quando diminuiu o risco de transmissão da covid e as atividades voltaram normalmente, tive dificuldade de conseguir trabalho. Algumas empresas não valorizam a experiência dos candidatos. Priorizam a estética e a aparência das pessoas, garantindo as oportunidades somente para jovens e excluindo a terceira idade do mercado de trabalho”.

Operadora de caixa no Fort Atacadista, Verena Crema (Foto: MB Comunicação).

O destino de Verena mudou quando, toda terça-feira, ela passou a frequentar o Fort Atacadista para comprar frutas e verduras frescas. Determinada a encontrar uma nova oportunidade profissional, ela deixou seu currículo a cada visita. Sua persistência garantiu a vaga como operadora de caixa. "Gosto de lidar com o público, da mesma forma como gosto de exercer a minha função”, relatou sorrindo.
 
Verena contou que sua dedicação é uma herança de infância, quando era incentivada pelos pais a fazer as tarefas de casa e organizar os materiais e atividades da escola. “Tenho muita energia. Minha geração foi criada de uma forma diferente. Isso gerou bons resultados na minha rotina atual. Acordo as seis da manhã, limpo a casa, dou atenção para meus pets e me organizo para o trabalho. Sempre fui muito disciplinada. Esse é o exemplo que posso compartilhar com os jovens, enquanto eles podem repassar suas habilidades tecnológicas para aprendermos juntos”.

Operadora de caixa no Fort Atacadista, Verena Crema (Foto: MB Comunicação).

RESPEITO E EMPATIA
 
Lídia Fátima Guraslki, de 53 anos, é natural de Erval Grande (RS) e cresceu no interior cercada pela natureza e pelas tradições familiares. Ainda na infância, mudou-se com seus pais e sua irmã para Chapecó, onde investiu nos estudos. Sua jornada rumo ao mercado de trabalho não foi fácil. Ela foi surpreendida quando a empresa onde trabalhava fechou as portas.
 
Conseguir um novo emprego, para Lídia, foi um desafio. Ela relata que sua trajetória profissional foi marcada em diversos momentos pela discriminação. “Trabalhei três anos em uma loja, mas precisei sair da empresa para auxiliar meu filho em um tratamento de saúde. Depois, tentei ingressar novamente no mercado de trabalho, mas em uma das entrevistas soube que contratavam pessoas de até 30 anos. Por que não contratam pessoas experientes se as vendedoras, geralmente, precisam atingir metas para ganhar comissão? Fiquei muito frustrada”.

Operadora de caixa no Fort Atacadista, Lídia Fátima Guraslki (Foto: MB Comunicação).

Determinada a superar a adversidade, Lídia tomou a iniciativa de entregar seu currículo no Fort Atacadista, um dos maiores varejistas da região, e foi contratada como operadora de caixa. “Achei uma empresa onde me sinto bem e que dá oportunidade para todas as pessoas. Existe respeito mútuo. Cada um tem um tempo e espaço. Precisamos nos colocar no lugar do outro. Agora, tenho maturidade para compreender e medir palavras e ações. Foram as experências que fizeram eu conquistar esse lugar e essas habilidades”.
Operadora de caixa no Fort Atacadista, Lídia Fátima Guraslki (Foto: MB Comunicação).
 
CINQUENTA +
 
Hoje, a população de 50 a 59 anos corresponde a 11,4% da população, e 60 anos ou mais, 14,7%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dentro das empresas, porém, os números são diferentes: na grande maioria das companhias, esses profissionais representam apenas de 3% a 5% do quadro de colaboradores, de acordo com a consultoria Maturi. Apesar do etarismo ser uma forma de preconceito velada no mercado de trabalho, os números não mentem: um em cada quatro profissionais já foi demitido por conta de sua idade, segundo pesquisa realizada pelo Vagas.com, Colettivo e Talento Sênior.
 
No Grupo Pereira o cenário é diferente. Somente em 2023, mais de 200 colaboradores acima dos 50 anos já foram contratados pela companhia. Atualmente, o sétimo maior grupo supermercadista do Brasil possui em seu quadro de colaboradores quase duas mil pessoas 50+, ou seja, 12% do total - mais do que o dobro registrado no mercado. “Acreditamos que as organizações precisam acelerar o processo de disseminação de uma cultura cada vez mais inclusiva e é isso que procuramos fazer sempre. Precisamos enxergar esse tipo de contratação como uma oportunidade estratégica, já que a população está envelhecendo de forma acelerada. Esse processo de inclusão torna a empresa mais diversa e consciente de seu papel. Para nós, é uma mão-de-obra que entrega, é produtiva e engajada, capaz de contribuir para a inovação nos negócios”, afirmou o diretor de Gente & Gestão do Grupo Pereira, Paulo Silva.
 
Para o gerente regional do Fort Atacadista de Chapecó, Éderson Fiorese, a inclusão de pessoas acima de 50 anos no mercado de trabalho é indispensável e inspiradora. “Temos exemplos de experiência e conhecimento. Percebemos em nossos funcionários muitas qualidades e aprendemos com elas. São ativos,  engajados e totalmente pacientes quando outro colega precisa de orientação. É um orgulho tê-los em nossa equipe”.
 

 

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