Postado em 06 de Junho de 2023 às 11h21

A dificuldade de enfrentar um inimigo diário

A dependência do cigarro e o que fazer para se livrar dele

O acompanhamento psicológico e farmacêutico teve grande importância para o casal que conseguiu parar de fumar (Foto: divulgação).

De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), durante o ano de 2020 o tabagismo foi responsável por 161.853 óbitos (443 mortes ao dia). Quanto as causas das mortes anuais atribuídas ao tabagismo 37.686 correspondem à doença pulmonar obstrutiva crônica; 33.179 às doenças cardíacas; 25.683 a outros cânceres; 24.443 ao câncer de pulmão; 18.620 ao tabagismo passivo e outras causas, 12.201 à pneumonia e 10.041 ao acidente vascular cerebral (AVC).
O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco. O tabagismo ativo e a exposição passiva à fumaça do tabaco estão relacionados ao desenvolvimento de diversas doenças, dentre as quais vários tipos de câncer, doenças do aparelho respiratório (enfisema pulmonar, bronquite crônica, asma, infecções respiratórias) e doenças cardiovasculares (angina, infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial, aneurismas, acidente vascular cerebral, tromboses). Há também outras doenças relacionadas ao tabagismo como a úlcera do aparelho digestivo; osteoporose; catarata; impotência sexual no homem; infertilidade na mulher; menopausa precoce e complicações na gravidez.
Marli de Fátima Pereira e Valmir Bataglion lembram até hoje quando foi a primeira vez que experimentaram o cigarro e desde então tem sido uma jornada longa na tentativa de deixar esse vício de lado. “Eu fumo desde os meus 15 anos. Minha mãe era tabagista e meu pai estava doente naquela época. Nós duas passávamos muito tempo acordadas, cuidando dele e o cigarro de palha era a nossa companhia”, conta ela ao ressaltar a dificuldade de deixar o vício de lado, principalmente quando ele está atrelado a outras ações do dia a dia, como por exemplo tomar chimarrão. Marli ressalta ainda que nunca gostou desse vício e, apesar de trabalhar cuidando de pessoas, em momento nenhum fumava quando estava no trabalho ou perto delas.
Apesar da família toda do Valmir ser fumante, ele só começou a fumar quando entrou na escola. “Aos 17 anos experimentei o cigarro pela influência dos amigos que estavam sempre comigo. No início era apenas com eles, mas depois passei a fumar nos fins de semana também e isso foi se tornando uma prática diária”, conta ele ao ressaltar que a profissão de vendedor, ao longo do tempo, contribuiu para que essa dependência se mantivesse, mas que evitava o consumo perto dos clientes.
Decididos a deixar a dependência pelo cigarro de lado é que o casal, juntos há 22 anos, buscou apoio no Grupo de Cessação de Tabagismo ofertado pela Unimed Chapecó aos beneficiários, que tem como objetivo a cessação ou a diminuição do uso do tabaco por parte dos dependentes. “Como eu trabalho aqui na Unimed, conheci o programa por meio das pessoas que atuam comigo e comentaram sobre a nova turma. Foi então que eu convidei meu marido e começamos a participar para juntos largarmos esse vício que faz tão mal”, destaca ela.
De acordo com a psicóloga da Unimed Chapecó, Deyse Parnof, o objetivo do programa é fornecer suporte emocional, clínico e multiprofissional com acompanhamento e monitoramento dos integrantes que fazem uso do tabaco, além de apoiá-los na tomada de decisão de cessar ou reduzir o uso. “Durante os encontros estimulamos habilidades para que eles resistam ao desejo de fumar e prepará-los com mecanismos de enfrentamento para lidar com o estresse ocasionado pela abstinência. Além disso, realizamos ações de promoção integral à saúde a fim de garantir a continuidade da terapia, estimular a responsabilidade consigo mesmo e o autocuidado, incentivando o hábito saudável e a melhoria na qualidade de vida”, finaliza.
Conforme explica a farmacêutica da Unimed Personal, Janice Zagonel, esta é a segunda edição do programa que tem duração de cinco meses. “No primeiro mês é realizado um encontro por semana. Na primeira semana, além de fazermos uma avaliação inicial dos participantes e explicar sobre o programa, temos a contribuição de um médico e um enfermeiro, falando sobre os malefícios do tabagismo e os problemas que podem causar à saúde. Na segunda semana quem participa é a farmacêutica para trazer informações sobre os medicamentos que podem ser inseridos para contribuir com a cessação do tabagismo e, também, orientações sobre o que acontece com o nosso corpo durante esse processo. No penúltimo encontro temos a nutricionista e uma educadora física falando sobre alimentação e a importância da prática do exercício físico. Já na última conversação participa uma dentista falando sobre a saúde bucal e também é feita a avaliação final dos participantes. Nos meses seguintes realizamos um encontro por mês, como acompanhamento, para que eles possam falar sobre suas experiências, desafios e as conquistas”, explica Janice.
Elas explicam que todo o material a ser trabalhado no programa é extraído do portal do Instituto Nacional de Câncer e, como orientado pelo mesmo, existem duas principais maneiras para quem deseja parar de fumar. A primeira é a parada imediata onde a pessoa escolhe uma data e, neste dia, deixa de fumar. Já a segunda é a parada gradual que pode ser feita de duas maneiras:
» Reduzir o número de cigarros. Para isso, é só contar o número de cigarros fumados por dia e passar a fumar um número menor a cada dia.
» Adiar a hora em que começa a fumar o primeiro cigarro do dia. Você deve adiar o primeiro cigarro por um número de horas predeterminado a cada dia até chegar o dia em que você não fumará nenhum cigarro.
“Muitas pessoas associam o cigarro a rotinas do dia a dia ou questões psicológicas. Para muitos, fumar já se tornou um hábito e para mudar isso é necessário sair da sua rotina, da zona de conforto e, com isso, vem a orientação dos nossos profissionais do Grupo de Cessação de Tabagismo”, complementa a psicóloga da Unimed Personal, Deisy Parnof.
Para o casal que está junto neste desafio de parar de fumar, o grupo os motivou muito e os resultados já são visíveis. “Estamos sem fumar desde o dia 21 de novembro de 2022. Escolhemos a data e, a partir desde dia, não fumamos mais. É um processo longo e muito difícil, mas temos o apoio um do outro. Sem contar que a nossa saúde tem melhorado a cada dia, a disposição aumentou, a função pulmonar e a circulação melhoram e, o principal, é que estamos felizes por ter deixado esse vício de lado”, finaliza Valmir.
OS MALEFÍCIOS DO CIGARRO ELETRÔNICO
O pneumologista e médico cooperado da Unimed Chapecó, Dr. Guilherme Tenfen, relata que, de acordo com estudos recentes há evidências que os cigarros eletrônicos causam sérios problemas a saúde de forma aguda ou crônica. “Não há dúvidas de que eles liberam menos substâncias do que a fumaça da combustão do tabaco. Todavia, já foram identificadas mais de 80 substâncias dentre elas a nicotina, metais pesados, tetrahidrocanabidiol, saborizantes, além de material particulado fino e extra-fino. Substâncias estas que são cancerígenas citotóxicas, genotóxicas e com potencial de causar inflamação e enfisema”, exemplifica o pneumologista.
Ainda, de acordo com o médico, o uso de cigarros eletrônicos causa dependência e aumenta o risco de uso de cigarros comuns, estresse oxidativo, pressão arterial, frequência cardíaca, tosse e crises de asma e risco de lesão pulmonar aguda associada ao uso de cigarros eletrônicos – EVALI, uma doença grave relacionada ao uso dele, potencialmente fatal.
“Não há nível seguro para exposição à nicotina, independente se for cigarro comum, cigarros eletrônicos e até mesmo narguile. A dependência pode ser gerada em poucos dias e não apenas após longo tempo de uso do cigarro. A melhor escolha é evitar o consumo”, finaliza o pneumologista.

 
O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco (Foto: divulgação).

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