Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
Artigo José Zeferino Pedrozo
Santa Catarina possui o mais avançado parque agroindustrial do Brasil, representado pelas avançadas cadeias produtivas da avicultura e da suinocultura. Essa fabulosa estrutura gera uma riqueza econômica de mais de 1 bilhão de aves e 12 milhões de suínos por ano, sustenta mais de 150 mil empregos diretos e indiretos e gera bilhões de reais em movimento econômico.
O principal insumo que fomenta essa megaestrutura é o milho. De tempo em tempos as agroindústrias e os criadores de aves e suínos são abalados pela escassez e milho, ou por questões climáticas, ou sanitárias ou mercadológicas. Em razão dos gigantescos volumes necessários e dos preços que o grão atinge, muitas operações são inviabilizadas no campo e na cidade, e muitas indústrias vão à bancarrota.
Nesse momento, todos esses fatores se associaram para criar uma situação de escassez e de preços altos. Santa Catarina necessita pelo menos de 7 milhões de toneladas para alimentar sua agroindústria e a produção interna seria de 2,7 milhões de toneladas. Seria, porque seca, excesso de chuvas e praga baixaram essa previsão para 1,7 milhão de toneladas.
Dessa forma, o grão ficou caro e escasso, portanto, com preço em contínua ascensão: mais de R$ 85,00 a saca de 60 kg. A situação somente irá melhorar no segundo semestre, com a entrada da safrinha.
Embora seja tão essencial, a cultura do milho está encolhendo em território catarinense. Em 2005, 106 mil produtores rurais cultivavam 800 mil hectares com milho. Nesses 15 anos, a área plantada foi se reduzindo paulatinamente e, em 2020, foram cultivados 330 mil hectares de lavouras.
A safra nacional de milho que já está sendo colhida deve render 20 milhões de toneladas. Isso indica que faltará milho já neste primeiro semestre no mercado brasileiro e essa situação deve se manter até a entrada da safrinha que ainda não foi plantada e que deve (pode) gerar 80 milhões de toneladas a partir de julho/agosto.
Parece que tudo conspira para a escassez de milho no mercado doméstico. Várias usinas de etanol de milho entram em funcionamento do Brasil central, este ano, enxugando mais de 5 milhões de toneladas. O câmbio estimula as exportações. A produção global prevista em 1,1 bilhão de toneladas deve cair 30 milhões. O consumo é crescente em todos os continentes.
A indústria e os criadores enfrentaram com sucesso esse quadro, no ano passado, somente porque as exportações sustentaram excelentes preços, mas essa situação não se perpetuará. Quando as exportações recuarem em volume ou em preços, o câmbio mudar e a Selic subir, ficará insustentável transformar proteína vegetal em proteína animal com os atuais preços do milho e do farelo de soja.
A FAESC defende o equilíbrio da cadeia produtiva de forma que PRODUTOR e INDÚSTRIA tenham ganhos compatíveis e que o CONSUMIDOR possa comprar os alimentos, obtendo sustentabilidade econômica e perenidade social.
Insumo escasso representa encarecimento para os produtores rurais e para as agroindústrias e gera um “efeito dominó” porque, por via de consequência, os alimentos (especialmente a carne) tornam-se mais caros para o consumidor.
È preciso perseverar na busca da autossuficiência catarinense, mas isso exige uma robusta política de apoio ao setor com várias frentes. Uma delas é a criação de uma linha de crédito para que os consumidores de milho (sejam criadores de aves e suínos ou agroindústrias) se abasteçam do produto. Da mesma forma, é necessário criar uma linha de crédito de longo prazo para financiar a construção de armazéns dotados de secadores e, também, a irrigação das lavouras. Só então teremos produtividade e estoques reguladores, podendo, assim, prevenir essas cíclicas e devastadoras crises de encarecimento do cereal-rei.
Veja também
Palma Sola define setores prioritários para o desenvolvimento econômico29/Mar/202229/03/22há 3 anos Terça-feira, 29 de Março de 202229/03/2022 Agropecuário, indústria e turismo são os três eixos prioritários para o desenvolvimento do município de Palma Sola, no extremo oeste catarinense. Essa definição ocorreu durante as reuniões para determinar estratégias e para a elaboração do Plano de Desenvolvimento Econômico Municipal (PEDEM), que contou com a......
Processo de produção e estoque das empresas está cada vez mais exposto ao Fisco31/Mai/201931/05/19há 5 anos Sexta-feira, 31 de Maio de 201931/05/2019Desde 2017 a Receita Federal está buscando mais informações das empresas sobre controles de estoque e inventários, por meio da entrega de duas obrigações acessórias que integram o Sistema Público de......