Produtores catarinenses de leite receberam em setembro em média R$1,87 pelo litro do alimento, com parte deles recebendo mais de R$2,00 por litro. Os dados são do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa).
O Conseleite/SC estabelece a cada mês o valor projetado do leite, que serve de base para o que os produtores receberão no mês seguinte. Em setembro esse valor ficou em R$1,8276, o segundo maior desde 2007, quando tem início a série histórica. É superado apenas pelos cerca de R$2,00 de julho de 2016, quando considerada a inflação do período. Em agosto, o produto já tinha alcançado valores bem superiores aos parâmetros históricos em Santa Catarina. Naquele mês o leite teve o preço fixado em R$1,7288, um pouco acima do projetado, que era de R$1,6943.
Combinação
Tabajara Marcondes, analista do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa) explica que esta elevação histórica de valores se deve a uma combinação de fatores relacionados à oferta e demanda.
Segundo ele, a produção de leite no Brasil ficou aquém do esperado no primeiro semestre de 2020. Nestes seis meses, a indústria de lácteos recebeu praticamente o mesmo volume de leite captado em igual período de 2019, um acréscimo de apenas 0,4%. As importações também não foram altas. “Embora tenha havido aumento das importações em julho e agosto, somando os volumes de 2020 as importações ficam abaixo do ano passado”, observa o analista.
Se a oferta não cresceu, a demanda sim, principalmente como reflexo da pandemia causada pela Covid-19. O isolamento social forçou famílias a se alimentarem mais em casa. O auxílio emergencial, pago pelo governo federal à famílias de baixa renda por conta da crise sanitária, também ajudou a incluir o alimento no cardápio de muitas famílias que, por falta de recursos financeiros, não o consumiam ou o faziam em pequena quantidade.
Redução
Na avaliação de Tabajara, é pouco provável que os preços pagos aos produtores de leite catarinenses se mantenham nesse patamar elevado nos próximos meses. “Alguns derivados lácteos já dão sinais de queda no mercado atacadista”, relata o técnico da Epagri/Cepa. Isso porque a oferta do produto nacional e as importações começam a crescer. A redução no valor do auxílio emergencial e do número de beneficiados também devem reduzir a demanda.
“O aumento da oferta e a diminuição na capacidade de compra tendem a reverter o mercado de lácteos rapidamente nos meses finais de 2020”, adianta Tabajara. Neste cenário, principalmente a partir de novembro, os preços recebidos pelos produtores deverão ficam bem abaixo dos verificados neste mês de setembro.
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