Postado em 19 de Dezembro de 2019 às 17h15

Procedimento inédito na região Oeste: Unimed Chapecó realiza primeiro implante de neuroestimulador para tratamento de Parkinson

O implante de estimulador cerebral profundo conhecido por DBS (deep brain stimulation) para tratamento da Doença de Parkinson foi desenvolvido inicialmente na França. Na região Oeste catarinense o Hospital Unimed Chapecó realizou, nesta semana, seu primeiro procedimento nessa área, que contou com a atuação integrada de vários profissionais da saúde e com estrutura adequada para realização dos exames de imagem necessários (tomografia e modernas ressonâncias), a locação do halo de estereotaxia com todo o suporte pós-operatório ao paciente submetido a uma terapia neurocirúrgica.
De acordo com o neurocirurgião Dr. Marcelo Lemos Vieira da Cunha essa técnica é utilizada em pacientes que não respondem mais ao tratamento com medicações e fisioterapias ou com muitos efeitos colaterais da terapia. A Doença de Parkinson não apresenta somente como limitações os tremores, embora seja a alteração mais conhecida popularmente. Há também rigidez, dificuldade de locomoção, distúrbios na fala e lentidão de movimentos, que impactam diretamente na qualidade de vida do paciente. “Com o implante do DBS espera-se uma diminuição na quantidade ou nas doses de medicamentos e com isso a redução de efeitos colaterais dos fármacos; mais facilidade para deambular (estilo de caminhar), para alimentar-se, para realizar os cuidados de higiene pessoal, para comunicar-se, dentre outras limitações”, explica ao comentar os principais benefícios do procedimento. Outra vantagem dessa terapia é de ser reversível: uma segurança a mais no caso do paciente experimentar algum desconforto com o disposto implantado.
A estimulação cerebral profunda funciona, segundo o neurocirurgião, a partir da implantação de um neuroestimulador no paciente (como se fosse um marca-passo cerebral), geralmente, na região torácica, sob a pele e abaixo da clavícula, conectado a uma extensão que transmite os impulsos elétricos produzidos a um eletrodo implantando na região cerebral para as regiões almejadas do sistema nervoso central. Com isso, estimulam-se as vias responsáveis pela motricidade permitindo que o indivíduo tenha maior controle sobre suas atividades motoras, que é a principal queixa dos pacientes. Após o implante do DBS é necessário realizar ajustes na programação do aparelho para que ocorra o melhor resultado.
 “Os pulsos elétricos podem ser remotamente controlados por um programador pequeno de mão. Assim é possível ajustar a intensidade e a frequência dos pulsos, de acordo com a melhor resposta apresentada por cada paciente, que depende do grau de comprometimento que a doença tem sobre a pessoa”, comenta Cunha. Entre os neuroestimulares há os recarregáveis e os não recarregáveis, sendo que a durabilidade da bateria depende da programação e pode durar de 3 a 25 anos conforme modelo e impulsos cerebrais utilizados.
Conforme o neurocirurgião, embora a cura seja o resultado mais esperado, ela não ocorre após a cirurgia, tampouco a doença deixa de progredir. “O que ocorre é a diminuição dos sintomas e, consequentemente, ganho na qualidade de vida. Esta sensação pode perdurar por anos”, explica.
Estudos revelam que esse procedimento tem indicações cada vez mais precoces. O tempo médio para indicar a terapia era de 11 anos após o diagnóstico da doença. Atualmente, pesquisas consideram a inserção do dispositivo após três anos do diagnóstico. “Tudo depende de uma rígida avaliação realizada por um neurologista treinado nessa disfunção, com diagnóstico preciso e da resposta ou não do paciente ao tratamento. O caso do primeiro implante realizado no Hospital Unimed Chapecó está com cinco anos do diagnóstico”, destaca.
Segundo Cunha, não há uma previsão de quantas pessoas serão beneficiadas com esse procedimento, pois a cirurgia não se aplica a todos os pacientes com Parkinson. “Sabemos que a doença acomete 1% a 2% da população acima de 65 anos, na qual boa parcela – após avaliação multiprofissional - pode se beneficiar dessa terapia”, enaltece ao comentar que o dispositivo pode ser utilizado para distonias e tremor essencial.
PROCEDIMENTO
O implante de neuroestimulador profundo é um procedimento realizado em várias etapas. Primeiramente é feita a inserção de um halo estereotáxico, que serve como ponto fixo do início ao fim do procedimento, garantindo a exatidão do alvo que será atingido para o controle dos sintomas.
Na sequência o paciente é conduzido à tomografia para realizar a marcação precisa desse alvo. Nesse ponto é feita a fusão da imagem obtida na tomografia com as imagens de uma ressonância de encéfalo realizada previamente. Após a marcação o paciente retorna ao centro cirúrgico para inserir o neuroestimulador profundo, através de dois pertuitos (orifícios) de 14 mm, um de cada lado do cérebro, pelos quais são alocados os eletrodos de DBS. Com a inserção dos eletrodos são feitos testes neurológicos para verificar a integridade de funções do paciente.
“Até esse momento o paciente permanece acordado, pois precisa colaborar nos testes, o que aumenta a segurança do procedimento. Não há dor, pois são realizados bloqueios no crânio e aplicadas medicações pela equipe anestésica. Depois da inserção do DBS e dos testes realizados com o paciente durante a neurocirurgia, verificando a melhora das funções com testes de estímulos, ele é anestesiado para passagem dos eletrodos no subcutâneo até o tórax, logo abaixo da clavícula, onde será inserido o gerador. Esses aparelhos são pequenos e finos, com aproximadamente 5 cm de comprimento e inferiores a 1 cm de altura”, argumenta ao explicar que as maiores complicações dessa técnica são infecções e sangramento, contudo, o percentual de ambos é de 2% e 1%, respectivamente.
Esse procedimento exige, além da técnica neurocirúrgica, equipe multidisciplinar para sua execução, aquisição de imagens adequadas (tomografia e ressonância de crânio) e cuidados especiais no manejo desses pacientes: fatores presentes no Complexo Unimed Chapecó. Nesse procedimento inédito no Oeste catarinense participaram: o Dr. Marcelo Lemos Vieira da Cunha (neurocirurgião), Dr. Alexandre Reis (neurocirurgião), Dr. Mateus Henriques (neurologista), Dr. Marilio Flasch (anestesista), Dr. Mateus Broeto (radiologista), Débora Souza (instrumentação neurocirúrgica) e toda equipe de enfermagem da Unimed Chapecó do Centro Cirúrgico e do setor Radiológico que possibilitaram o sucesso do procedimento.

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