Postado em 20 de Maio de 2019 às 17h24

Antibióticos: controle é fundamental para evitar uso inadequado

Sabe-se que o uso inadequado de antibióticos permite que as bactérias desenvolvam resistência a essas drogas, dificultando e encarecendo o tratamento de infecções. Como os antibióticos são bastante usados na prática hospitalar, é comum que algumas Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) sejam causadas por germes resistentes, e isso é um fenômeno mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem especial preocupação com tal fenômeno e, inclusive, já adotou o termo “Era Pós-antibiótica”, com o objetivo de orientar para que o uso de antibióticos seja cada vez mais restrito e racional.
O Hospital Unimed Chapecó mantém um Programa de Uso Racional de Antimicrobianos, através do qual todas as prescrições de antibióticos realizadas no hospital são checadas pela equipe do Serviço de Controle de IRAS. “Quando necessário, intervenções são feitas, de médico para médico, para que a terapia antimicrobiana seja otimizada, ou seja, para que o paciente tratado tenha o melhor desfecho possível, com o menor potencial de dano para si e para a comunidade”, explica a médica infectologista, coordenadora médica do Serviço de Controle de IRAS e Diretora Hospitalar do Hospital Unimed Chapecó, Dra. Carolina C. Ponzi.
Antigamente, estas drogas podiam ser adquiridas sem receita médica em qualquer farmácia e acabavam sendo utilizadas de maneira equivocada pela população. Segundo Dra. Carolina, diante do mal entendimento de que os antibióticos não causavam danos, os próprios profissionais de saúde lançavam mão da prescrição destes medicamentos para infecções que não eram causadas por bactérias - tanto em nível ambulatorial, quanto em nível hospitalar. Esta dúvida, de acordo com a médica, ainda hoje costuma levar à prescrição exagerada destas drogas.
“A falsa ideia de que antibióticos de amplo espectro são "melhores" para o tratamento de germes sensíveis a drogas de menor atuação também contribuiu para o fenômeno da multirresistência, e a ausência de programas de controle de uso racional de antibióticos também favoreceu o surgimento das chamadas superbactérias”, ressalta.
Ainda conforme a especialista, o consumo inadequado de determinado antibiótico pode, muitas vezes, comprometer a eficácia do tratamento, uma vez que bactérias frequentemente desenvolvem resistência durante o tratamento, estimuladas pela própria droga. As bactérias trocam informações genéticas entre si, e a resistência a um antimicrobiano pode ser transmitida entre as espécies bacterianas.
Uso adequado
Sabe-se que as bactérias desenvolvem mecanismos de resistência muito mais rápido que a ciência consegue desenvolver novas drogas para o tratamento de infecções. Ou seja, quanto mais se conseguir preservar a atividade destas drogas, melhor para todo mundo. Dra. Carolina destaca que o principal benefício do uso racional de antimicrobianos é a preservação destas drogas para uso atual e futuro.
No Hospital Unimed Chapecó há políticas de racionalização do uso de antibióticos em cumprimento à legislação atual no Brasil e às recomendações da OMS. Diariamente, a equipe do Serviços de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (SCIRAS) avalia todas as prescrições de antibióticos realizadas. Itens como o diagnóstico do paciente, suas comorbidades, medicamentos utilizados, exames laboratoriais e de imagem realizados e a evolução médica e de enfermagem são avaliados pela farmacêutica do serviço, e é realizada a auditoria concorrente destas drogas pela médica infectologista.
Nenhuma droga é deliberadamente suspensa ou modificada pelo SCIRAS, exceto em casos de inadequação grave com potencial risco de vida para o paciente. Cabe ao médico prescritor acatar ou não a recomendação realizada. No ano de 2018 foram avaliadas 1.603 prescrições de antimicrobianos no Hospital Unimed Chapecó, com 508 orientações emitidas para a otimização do uso destas drogas, e a aceitação destas orientações foi de 83%. A área sobre a qual mais se emitiu orientações foi a clínica médica (46,7%), seguida pela cirurgia, pediatria e ginecologia e obstetrícia. Aproximadamente 41% das orientações foram relacionadas à escolha da droga prescrita, de acordo com os protocolos institucionais de terapia antimicrobiana.
“A eficácia e a eficiência destas ações são medidas mensalmente, através da análise crítica dos indicadores gerados a partir da auditoria concorrente de antimicrobianos, bem como através do seu consumo”, salienta Dra. Carolina ao ressaltar que a OMS recomenda que o consumo de antimicrobianos seja medido em Dose Definida Diária (DDD) por mil pacientes por dia, e que este indicador seja avaliado mensalmente, de maneira contínua. A instituição traça metas de consumo, baseadas no seu perfil de pacientes, e cruza estes dados com o seu perfil microbiológico.
 Um pouco de história
O uso inadequado de antimicrobianos é descrito há vários anos. Scheckler e Bennet, em 1970, observaram que 62% das indicações de antimicrobianos eram feitas a pacientes sem infecção. Kunin concluiu em artigo publicado em 1973 que 50% das prescrições de antimicrobianos não tinham indicação. Jogerst e Dippe, em 1981, classificaram como inadequadas 59% das prescrições antimicrobianas.
O controle do uso de antimicrobianos em hospitais passou a acontecer quando a publicação da Portaria Ministerial 2.616, de 1998, que regulamentou o funcionamento das Comissões e Serviços de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (CCIRAS e SCIRAS), e o Conselho Federal de Medicina, através da Resolução 1.552 de 1999, determinou que o uso de antibióticos em hospitais obrigatoriamente respeitaria as normas das CCIRAS.
Em 2010 a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária, através da RDC 44, determinou que os antibióticos somente poderiam sem adquiridos em farmácias diante da apresentação de receita médica controlada. No Hospital Unimed Chapecó, a auditoria concorrente de antimicrobianos acontece de maneira sistemática desde 2011.
Texto Andressa Recchia/Unimed Chapecó 

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